
Meu bordado preferido
O caco de vidro reluz,
Caco de vida cheio de sol.
No cotidiano recompor-se,
A linha que borda a existência
Afrouxa e enrijece,
Sustentando a vida
Vivida e inventada.
Uma manhã de domingo,
O sorriso da minha Avó
Forte força.
Seu dom de estrela: amor celeste
Sustentação.
Do caco de vidro ao caco de vida mais bonito, feito da beleza dela.
Meu bordado preferido.
*Nota de 2019:
Compartilhei esse textinho um dia após a segunda cirurgia da Vó Nenê. As palavras foram me ocorrendo com leveza, força e gratidão, enquanto voltava pra casa de ônibus. Vó Nenê pediu que tirasse seus brincos e sua aliança, e que os guardasse comigo. Nada mais foi dito. Eu sorri. Fiz com muito amor e medo. Ela ficou paradinha, esperando que tirasse o brinco de uma orelha e depois da outra. Então, ajudei a tirar do dedo gordinho, sua aliança. Ficamos em silêncio. Foi breve e infinito. Tive a benção de devolver tudo no mesmo dia. Os brincos e a aliança seguiram enfeitando minha avó. E ela seguiu enfeitando minha vida, em vida. Agora, a vida que foi dela – e nossa – enfeita todas as memórias doces e felizes. Enfeita meu coração. O tempo engole o que não vivemos. Ela não veio me ver em São Paulo, não fez os docinhos do meu casamento. Também não vai conhecer pessoalmente um filho meu – se um dia tiver um… Sei que lutou para ficar mais um pouco. Honro seu desejo pela vida e toda sua trajetória. Agradeço por me ensinar a estar forte e lúcida, a resistir. Também reconheço com gratidão o início do meu aprendizado sobre despedidas. Permanecemos unidas naquilo que temos de mais valioso: o amor de neta e avó. Te amo pra sempre.